quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O mundo de Ana



A Agência Maxime entrevistou a cineasta, jornalista e poetisa Ana Johann. Em uma conversa descontraída na casa de sua produtora, a Capicua Filmes (e com uma xícara de café para acompanhar), Ana falou sobre seus trabalhos como diretora e produtora e sobre seu processo de criação. 
  

Agência Maxime: Onde você busca as histórias que você conta nos seus filmes?

Ana Johann: Os personagens sempre chegam até mim, na verdade, nunca pesquisei um personagem. Quer dizer, talvez eu nunca tenha parado e ido em busca deles, mas eu penso nos personagens [risos]. Acho que intuitivamente, essa coisa da energia e da conexão, que eu acredito muito, traz eles até mim. Como a bolsa de estudos que eu ganhei: eu estava no lugar certo na hora certa. Acredito que é muito trabalho também. Algumas coisas chegam até nós, outras a gente tem que ir atrás, tem que planejar, mas eu acredito em sorte. Porque, hoje, se eu olho pra trás e penso como eu cheguei até o cinema... Mal sei! Eu estou aqui porque eu acho que eu tenho que estar aqui. Hoje sou muito grata por isso e o que eu gosto é de observar a vida e os relacionamentos. Acho que a gente tem que ter um bom entendimento sobre a vida e se você tem um entendimento estereotipado, isso vai estar no seu papel. Um cineasta, um roteirista, um escritor têm que ter um olhar com menos julgamento e mais compreensão sobre a vida. 

AM: Como você deixa os seus filmes com a sua cara?

AJ: Isso tem muito a ver com o nosso olhar, a maneira como a gente é e a maneira como a gente vê as coisas. Eu gosto muito de filmes existencialistas e poéticos. Eu acho que cada projeto tem uma cara, né? Não adianta a gente colocar em uma forminha. Mas existe algum traço que, por exemplo, faz você assistir à um filme e reconhecer que ele é de tal pessoa. Isso é algo que vai sempre permeando as obras e, no meu caso, acho que é a poesia. Fora Um Filme Para Dirceu, em todos os outros eu percebo essa construção da vida pela poesia e de ver beleza até onde não existe, até nas coisas ruins.

AM: Se você tivesse que escolher o seu projeto favorito até hoje, qual seria?

AJ: Acho que o último e o primeiro. O primeiro é o primeiro, e é sempre especial porque é aquele que a gente... Ah, é o primeiro! [Risos]. É o que deu razão para os outros existirem, porque eu gravei na minha cidade, então é autobiográfico. Essa coisa rural é muito forte em mim. Hoje não me vejo morando lá porque eu gosto dos grandes centros, mas essa coisa rural está em mim e eu não tenho como fugir dela.

AM: Você pretende se manter na produção autoral ou quer chegar na grande indústria? 

AJ: Eu acho que acessar a indústria do cinema é muito difícil porque hoje o mercado está mais na TV. Se já é complicado realizar e produzir, distribuir é mais ainda, porque depende do realizador. Não são os distribuidores que compram seu filme, é você que tem que ter dinheiro para bancar essa distribuição. Mas eu acho que nada me impede de daqui a pouco pensar em um projeto pra isso. Existem projetos e projetos, você não precisa ser só autoral ou só comercial. Acho que são momentos, mas hoje, se for pra eu mirar no futuro, prefiro ser conhecida como uma diretora autoral, a exemplo de alguns nomes que a gente tem no cinema e que eu gosto muito, como Karim Aionouz, Marcelo Gomes, Jorge Furtado…

AM: Como você vê sua carreira no futuro?

AJ: Eu me vejo como pesquisadora, professora, quero até lançar um livro sobre roteiro, e como uma realizadora de filmes autorais, mas filmes autorais que tenham cada vez mais propósito, porque ninguém faz um filme para gaveta. Então hoje eu estou mais interessada em fazer filmes que eu sei à que público se destinam e como vão chegar até ele.


Texto: Mayara Nascimento. Foto: Carolina Mildemberger. Colaborou: Silvia Tokutsune.

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